"Que as palavras soem para você da melhor maneira a se encaixar na sua vida. Sejam doces, amargas, confortadoras, desafiantes, incômodas. Mas que soem... Esse é o meu real desejo."

terça-feira, 16 de março de 2010

O fim do Carnaval

Recentemente vivemos uma das festas mais bonitas do Brasil. As máscaras, as fantasias, as alegrias que todos mostram no carnaval realmente encantam a muitos. E, parando para observar profundamente as pessoas, vemos que muito das relações humanas são verdadeiros bailes carnavalescos, nos quais máscaras, fantasias e adereços escondem seres humanos e tornam mais “confortável” a exposição ao mundo. No entanto, é certo que muitos desses “esconderijos” precisam ser desfeitos para que as relações sejam saudáveis.

A relação médico-paciente, humana em grau, número e gênero, não foge desses parâmetros. A bata branca é a fantasia mais segura, e a doença é a máscara mais oclusiva. Porém, um dia, o baile precisa acabar. Cabe ao médico, e também ao paciente, propor a chegada da quarta-feira de cinzas, onde voltamos a ser nós mesmos, nos despimos dos adereços para voltar à vida real. E essa nudez de máscaras e fantasias faz com que percebamos no nosso paciente (enquanto médicos) um ser humano completo, biológico, psíquico e socialmente, e passamos, então, a tratá-lo com a dignidade devida. Essa mesma nudez faz com que percebamos nos nossos médicos (enquanto pacientes) um ser humano completo, que não é uma máquina fonte de cura e sim uma mente e um coração fontes de amparo e cuidado.

Nosso dever então, enquanto futuros médicos, é fazer com que a relação médico-paciente seja a profissionalização de uma relação puramente pessoal e a “desprofissionalização” de uma relação puramente profissional, mantendo-se sempre o respeito à pessoa humana para que se alcance, de fato, desenvolvimento pessoal e profissional plenos.

Texto escrito em: 03/03/2010
Tema: A relação médico-paciente

4 comentários:

  1. Que suas palavras se concretizem em atos. Atos não só seus, claro! Mas meus e nossos (alunos de medicina) também! Que uma nova era de médicos surja na medicina retomando uma medicina humana, prática e honesta, na qual possamos trabalhar com dignidade, oferecendo ao paciente o mínimo que podemos ofertar: RESPEITO. Parabéns, Amanda, mais uma vez.

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  2. Amandinha,bela reflexão feita por você!

    Não só na relação médico-paciente,mas em todo setor das relações humanas devemos observar o que há dentro de uma pessoa: suas angústias,seus medos, suas alegrias,para só então podermos compreendê-la de verdade.

    Como futuros médicos,deveremos levar o melhor de nossa capacidade de compreensão afim de não nos escondermos atrás de um status e possamos trabalhar para dar um alívio aquele paciente.

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  3. É por isso que te admiro tanto, sabia? Pensamentos assim deveriam ser maioria absoluta entre a classe médica, mas infelizmente, está em extinção o médico humano, que olhe para o paciente e não veja um órgão doente, mas um ser humano, cujos sentimentos, desejos, ânsias se comparam com os seus próprios. Olhemos para os pacientes como seres que necessitam muitas vez apenas de um pouco de atenção para se sentirem bem... O conceito de saúde tem mudado bastante ao longo dos tempos, mas é consenso que o que caracteriza a saúde não é a simples ausência de doença fisiológica. Deixemos essa mentalidade retrógrada no passado! É clichê, mas é real: Quem vive de passado é museu! Renovemos os pensamentos, reciclemos atitudes, e assim poderemos construir uma medicina menos mecânica, mas mais acolhedora, mais "cuidadora" do que "curadora"!

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  4. Lindo texto, Amandinha, parabéns por essa visão tão profunda sobre a relação médico-paciente e,consequentemente, sobre nossas relações humanas.

    Espero que realmente possamos, não apenas como futuros médicos, mas, sobretudo, como seres humanos pôr fim às mácaras "carnavalescas", que são boas até não conseguirem ser suficientes para dizer quem somos. Neste momento, caímos no mais profundo esquecimento de nós mesmos, de nossa essência gregária, e fingimos tanto a felicidade, que esta perde seu sentido e torna-se apenas uma palavra.
    Devemos lembrar que cuidar do "Outro" é cuidar de nós mesmos, logo, só poderemos cuidar deste "Outro" se o enxergarmos por completo, em toda sua complexidade e só assim conseguiremos enxergar nossa própria existência e construir a felicidade, um sentimento eternamente inconstante.
    Espero que continuemos pensando assim, para podermos modificar as relações que determinam nossa existência e com isso existir de fato como verdadeiros seres humanos.


    Érica Vanessa

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